A professora Martha de Freitas Azevedo Pannunzio, de 74 anos, é de Uberlândia.
Ela escreveu uma carta para a presidente Dilma que foi entregue em mãos.
Alguns trechos podem ser lidos aqui neste blog.
É a voz de quem não se cala e não consente.
BRASIL CARINHOSO
[...] Brincando de mamãe Noel, dona Dilma? Em ano de eleição
municipalista?
Faça-me o favor, senhora presidentA! É preciso que o Brasil crie
um mecanismo bastante severo de controle dos impulsos eleitoreiros dos seus
executivos (presidente da república, governador e prefeito) para que as
matracas de fazer voto sejam banidas da História do Brasil.
Setenta reais per capita para
as famílias miseráveis que têm filhos entre 0 a 06 anos foi um gesto bastante
generoso que vai estimular o convívio familiar destas pessoas, porque elas
irão, com certeza, reunir sob o mesmo teto o maior número de dependentes para
engordar sua renda.
Por outro lado mulheres e homens miseráveis irão correndo para
a cama produzir filhos de cinco em cinco anos. Este é, sem dúvida, um plano
quinquenal engenhoso de estímulo à vagabundagem, claramente expresso nas
diversas bolsas-esmola do governo do PT.
É muito fácil dar bom dia com chapéu alheio. É muito fácil fazer
gracinha, jogar para a plateia. É fácil e é um sintoma evidente de que se
trabalha (que se governa, no seu caso) irresponsavelmente.
[...] E o governo é
paternalista, provedor, pragmático no mau sentido,
e delirante. Vocês são adeptos do quanto pior, melhor. São discricionários,
praticantes do bullying mais indecente da História do Brasil [...]
Em 1988 a Assembleia Nacional
Constituinte, numa queda-de-braço espetacular, legou ao Brasil uma Carta Magna
bastante democrática e moderna. No seu Art. 5º está escrito que todos são
iguais perante a lei.
Aí, quando o PT foi ao paraíso, ele completou esta
disposição, enfiando goela abaixo das camadas sociais pagadoras de imposto seu modus
governandi a partir do qual todos são iguais perante a lei, menos os que são
diferentes: os beneficiários das cotas e das bolsas-esmola.
A partir de vocês. Sr. Luís Inácio e dona Dilma, negro é negro,
pobre é pobre e miserável é miserável. E a Constituição que vá para a pqp.
Vocês selecionaram estes brasileiros e brasileiras,
colocaram-nos no tronco, como eu faço com o meu gado, e os marcaram com ferro quente,
para não deixar dúvida de que são mal-nascidos.
Não fizeram propriamente uma exclusão, mas fizeram, com certeza,
publicamente, uma apartação étnica e social. E o PROUNI se transformou num
balcão de empréstimo pró escolas superiores particulares de qualidade bem
duvidosa, convalidadas pelo Ministério de Educação.
Faculdades capengas, que estavam na UTI financeira e deveriam
ter sido fechadas a bem da moralidade, da ética e da saúde intelectual, empresarial,
cultural e política do País.
[...] Nossa grade curricular é tão superficial e supérflua, que
o aluno chega ao final do ensino médio incapaz de conjugar um verbo, incapaz de
localizar a oração principal de um período composto por coordenação. Não sabe
tabuada. Não sabe regra de três. Não sabe calcular juros. Não sabe o nome dos
Estados nem de suas capitais.
[...] Nossos meninos e jovens leem (quando leem), mas não
compreendem
o que leram. Estamos na rabeira do mundo, dona Dilma. Acorde!
[...] Dê um pulinho na Finlândia, dona Dilma.
No aerolula dá pra
chegar num piscar de olhos.
Vá até lá ver como se gerencia a educação pública com
responsabilidade e resultado. Enquanto os finlandeses amam a escola, os
brasileiros a depredam. Lá eles permanecem. Aqui a evasão é exorbitante.
Educação custa caro? Depende do ponto de vista de quem analisa. Só
que educação não é despesa. É investimento. E tem que ser feita por qualquer
gestor minimamente sério e minimamente inteligente.
Povo educado ganha mais, consome mais, come mais corretamente, adoece
menos e recolhe mais imposto para as burras dos governos. Vale à pena investir
mais em educação do que em caridade, pelo menos assim penso eu, materialista
convicta.
[...] Estou firmemente convencida de que este novo programa,
BRASIL CARINHOSO, além de não solucionar o problema de ninguém, ainda tem o
condão de produzir uma casta inoperante, parasita social, sem qualificação
profissional, que não levará nosso País a lugar nenhum.
[...] Quem cala, consente. Eu não me calo. Aos setenta e quatro
anos, o que eu mais queria era poder envelhecer despreocupada, apesar da
pancadaria de 1964.
[...] A senhora não pediu minha opinião, mas vai mandar a fatura
para eu pagar. Vai. Tomou esta decisão sem me consultar. Num país com taxa de
crescimento industrial abaixo de zero, eu, agropecuarista, burro-de-carga
brasileiro, me dou o direito de pensar em voz alta e o dever de me colocar
publicamente contra este cafuné na cabeça dos miseráveis [...].
Torraram uma grana preta com o FOME ZERO, o bolsa-escola, o
bolsa-família, o vale-gás, as ONGs fajutas e outras esmolas que tais.
[...] Gostaria que a senhora me mandasse o mapeamento do Brasil miserável
e uma cópia dos estudos feitos para avaliar o quantitativo de miseráveis
apurado pelo Palácio do Planalto antes do anúncio do BRASIL CARINHOSO.
Quero fazer uma continha de multiplicar e outra de dividir, só
para saber qual a parte que me toca nesta chamada de capital. Democracia é
isto, minha cara. Transparência. Não ofende. Não dói.
[...] Se eu mandar esta
correspondência pelo correio, talvez ela pare na Casa Civil ou nas mãos de
algum assessor censor e a senhora nunca saberá que desagradou alguém em algum
lugar. Então vai pela internet.
Com pessoas públicas a gente fala publicamente para que alguém,
ciente, discorde ou concorde. O contraditório é muito saudável.
Não gostei e desaprovo o BRASIL
CARINHOSO [...]
Prefiro me ocupar de algo mais grave, muitíssimo mais grave, que
é um desvio de conduta de líderes políticos desonestos, chamado populismo,
utilizado para destruir a dignidade da massa ignara.
Aliciar as classes sociais menos favorecidas é indecente e profundamente
desonesto.
Eles são ingênuos, pobres de espírito, analfabetos, excluídos?
Os miseráveis são. Mas votam, como qualquer cidadão produtivo,
pagador de impostos.
Esta é a jogada. Suja.
A televisão mostra ininterruptamente imagens de desespero
social. Neste momento em todos os países, pobres, emergentes ou ricos, a população
luta, grita, protesta, mata, morre, reivindicando oportunidade de trabalho.
Enquanto isto, aqui no País das Maravilhas, a presidente risonha
e ricamente produzida anuncia um programa de estímulo à vagabundagem.
Estamos na contramão da História, dona Dilma!
[...] Último lembrete: a
pobreza é uma consequência da esmola.
Corta a esmola que a pobreza acaba, como dois mais dois são
quatro.
Não me leve a mal por este protesto público.
Tenho obrigação de protestar, sabe por quê?
Porque, de cada delírio seu, quem paga a conta sou eu.
Atenciosamente,
Martha de Freitas Azevedo Pannunzio
Fazenda Água Limpa, Uberlândia, em 16-05-2012